Homenagem Viva
Alcateia
Dirceu Rabelo
Dom Joaquim - MG
Somos como uma densa floresta
Onde vive uma briguenta alcateia
Lobos famintos que se devoram
Em frenesi de vãs interpelações.
E cabe a cada um de nós arbitrar,
E controlar tamanha algazarra.
Porque os nossos pseudo animais
Não são coisas falsas que carregamos,
E que nos acompanham pelas vidas,
Sucessivas reencarnações por nada!
Uma delas é o amor; a outra é o ódio.
Vence a luta, entre a alcateia louca,
Aquele lobo que recebe mais alimento.
Alimentemos a nossa loba do amor,
Que o lobo do ódio se enfraquecerá.
A arma da urna
Dirceu Rabelo
Dom Joaquim - MG
O povo sai às ruas e mostra seu interesse em mudar
Fazem-nos grande bem, esses ventos de transição,
Que forçam os sisudos e corruptos poderes a pensar
Em nossa combalida, mas ainda assim amada nação.
Somos um povo ferido pelo desconforto da vergonha,
De nascer num país onde político tem DNA da rapina.
A terra passa por sérias mutações; tiremos a peçonha,
Dessas cobras politiqueiras, ofídios movidos a propina.
Saiba caro eleitor, que você tem uma arma na mão.
A escolha de um candidato é momento bem crítico
E não é a política que faz um candidato virar ladrão,
É o seu voto errado que faz o ladrão virar... político!
O velho sobrado de Lisboa
Dirceu Rabelo
Dom Joaquim - MG
No velho sobrado abandonado defronte ao sótão
Que aluguei em minha viagem a Lisboa
Mora um espírito de mulher, branca, bonita
De vestes toscas deixando ver seus nadas desnudos
Que me dá sinais afagando os braços e os seios
E que as vezes, me joga beijinhos insistentes e tristonhos.
Quando estou no avarandado já tarde da noite
Bem agasalhado, tomando um chá e admirando a cidade
Ela, lá de dentro, por detrás da velha cortina de brocado
Manda seus amigos pombos correio com recados
Amarrados em suas pernas, para mim...
Todos; cada um mais apaixonado! E aguarda meu olhar.
É assim todas as noites, desde que aqui cheguei
Ela fica a sorrir para mim perto da velha sacada
E depois entra esvoaçante, toda trigosa
Como se fosse buscar para mim algum mimo
E busca! Uma flor amarela, que me arremessa
E esta vem como uma pluma, voando em câmera lenta
Apanho-a ainda no ar. Perfume estranho que invade o aposento.
Mas é com tristeza que percebi que há dois dias
Não a vejo mais, nem mesmo seus pombos. Que pena!
E bem agora que tenho que partir, sem despedidas...
Ela pareceu-me mesmo meio atribulada, coitadinha.
Ou serei eu que estou a ver coisas que queria ver?
Eu, minha solidão e meus fantasmas...
Meu cilício...
Dirceu Rabelo
Dom Joaquim - MG
Se um dia desses
Eu me sentir saudoso
Contristado por ti,
Juro que me açoitarei
E me censurarei
Veementemente!
Porque não mereces
Meia lágrima sequer
Deste ser que a ti
Aqui ainda se refere
Nem eu mesmo sei o porquê!
Não admitirei recaídas
Idas e vindas... Paixão finda!
Nem mesmo comiseração,
Nem um olhar de relance
Lançar-te-ei ao teu alcance.
Não! Estou resolvido
A não ceder jamais!
Reconheço porem
Minha fraqueza, e mais...
O quanto é desarrazoada
Minha morna indecisão
E meus vazios que te ferem.
E sei quão salafrário estou
Que desaperto meu cilício
Nesta penitência que é tormento
Em profano sacrifício
Suponhamos então que
Se me deres, agora
Uma leve esperança
De voltar [só uma!]
Mesmo que pequena
Não terei como segurar
Meu inconsequente coração
Que jamais te esqueceu...
Problema dele; não meu!
Coração ingênuo
Dirceu Rabelo
Dom Joaquim - MG
Ah! Coração sem malícia!
Por que me levou a amar assim,
Como um adolescente,
Crente de que sabia algo de mim
Quando eu ainda adolescia?
Por que fui gostar tanto assim,
Se nem ao menos conjugar
O tal de verbo amar eu sabia?
Gastei todo um valioso tempo
Que transcorria, e nem percebia...
Por que, coração, sem autopiedade,
Larguei tudo e me lancei ao infortúnio,
E alquebrado a despenhar-me no existir,
Mas ainda, no intrincado plenilúnio,
Para entender tamanha complexidade?
Mas, matutando bem... Para que?
Agora, na terceira e última idade,
Aquela que eu amava já se adiantou;
De que adianta guardar uma saudade,
Se ela já está longe, não me aguardou?
Só agora entendo o verdadeiro amar.
Perguntem-me que respondo de pronto!
Deste meu amargor vem perplexo conceito...
O que é amar? O que é amor? Eu conto!
Sei lá! Sei que dói fundo aqui neste peito...
4 comentários:
Boa tarde Celso, linda homenagem a Dirceu Rabelo!! Gostei muito de "O velho sobrado de Lisboa", bonita imagem também!!Abraços, Van.
Vanice, boa noite. Obrigado pela sua visita e leitura dos textos em homenagem a Dirceu Rabelo, fico feliz que tenha apreciado o trabalho do poeta, meu trabalho na preparação e escolha de imagens. Abraço - CeGaToSí®
Amei as suas poesia poeta. Estarei visitando outras vezes e seguindo o blog. Parabéns
Poesias Sensuais e Contos, agradeço pelo carinho da sua visita ao meu espaço, venha quantas vezes desejar, aqui tudo é criado para isto mesmo, divulgar a poesia. Abraço - CeGaToSí®
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