Homenagem Viva

A despetalar meu sonho
Silvia Maria Leite Mota
[ Silvia Mota ]
Rio de Janeiro - RJ
do soberbo desígnio de ansiar-te na lua
e num vai e vem minh'alma louca dança...
Se não posso ser nada além do que ser tua
ao furor delinquente de um sonho qualquer,
neste instante busco-te em minh'alma mulher...
Bem-me-quer... mal-me-quer...
Bem-me-quer... mal-me-quer...
E só querias o meu silêncio...
Silvia Maria Leite Mota
[ Silvia Mota ]
Rio de Janeiro - RJ
Querias
o invólucro rútilo
da quimera,
mas fui fera,
pantera:
fiz barulho
no teu prazer
Querias
o purpúreo filo
do meu poente,
mas fui candente,
demente:
fui gorgulho
no teu beber
Querias
o fidalgo estilo
d'alma incógnita,
mas fui pepita,
bonita:
fui orgulho
no teu querer
Querias
o doce sigilo
da vestal,
mas fui carnal,
carnaval:
fui marulho
no teu fazer
Só querias meu silêncio,
dei-te meu grito...
eu não sabia...
Poeta suicida
Silvia Maria Leite Mota
[ Silvia Mota ]
Rio de Janeiro - RJ
Há dias aos quais sonho a vida
de forma tão insana,
que desgrudo meu olhar de mim
e afloro primavera queimada.
Hastes secas,
pétalas ressequidas
ao sol do meio dia
- enxerto mal feito -
Há dias aos quais morro em vida
e de forma incontida
revelo a insolência tola
do peito atrevido.
Exibo ao mundo
uma indecorosa felicidade,
que chora escondida
e se amofina à cópula dos ratos.
Há dias aos quais fantasio sexo
através das rendas
e veludos vermelhos
enfurnados na lembrança.
Cubro-me de lingeries
negra, verde, azul, branca...
e colorida de ilusões
enluto-me na saudade.
Há dias aos quais me acavalo
na cauda dos arco-íris
e sumo no vento, pelo Infinito,
a sugar o sexo dos anjos.
Embebedo-me consciente
ao sabor agridoce... gota a gota...
empanturrando-me de vertigem,
até vomitar Eras no paraíso das estrelas.
Nesses dias, aos quais sou humana,
h u m a n a m e n t e monstro de mim,
é preciso estourar os tímpanos
com a granada da Esperança.
Emparedo-me viva - como vampira,
nos poros sanguinolentos da própria pele
e por apodrentar em perfume,
suicida viva, despetalo.
Ao então, quando a escuridão desaba
e o Universo se arrasta aos meus pés
a bolinar-me morta, os meus Eus imortais
arreganham-se em orgasmos múltiplos.
Nessa ménage indescritível
arrombo o sarcófago da inércia
e renasço falena... meio fada... meio bruxa...
borboleta noturna... meio fêmea... meio poeta...
Um vendaval de desejos
Silvia Maria Leite Mota
[ Silvia Mota ]
Rio de Janeiro - RJ
Espreita as rosas em amor com o vento
e os espinhos que se recolhem em silêncio -
ciúmes pontiagudos.
Sorve no corpo o sensual perfume
de excêntrico vendaval -
aroma em ti, que partiu do meu jardim.
Meu tempo sem tua presença
Silvia Maria Leite Mota
[ Silvia Mota ]
Rio de Janeiro - RJ
Sem teu olhos,
meu tempo
é luz sem claridade,
cor de noite triste.
Sem tua boca,
meu tempo
é flor sem perfume,
saber de fel no mel.
Sem teus braços,
meu tempo
é folha sem rama,
verde de sonho irreal.
Sem teu sexo,
meu tempo
é tarde sem brisa,
gozo de ária infeliz.
Sem tua vida,
meu tempo
é canto sem ledice,
morte de beijo ancião.
Sem tua presença,
meu tempo
é ausência sem termo,
teimosia da vida em mim.
Desejo
Silvia Maria Leite Mota
[ Silvia Mota ]
Rio de Janeiro - RJ
Trajada de hera e flor, prenúncio à primavera,
abrigo tempestade, exponho-me ao teu passo,
esculpo vento em ar, pertença d'outra esfera.
Sou barro e sou poema - em ti sou limo crasso.
Passada firme e reta, ao som de era em era,
tens olhos luze-luze e ardor de ser devasso,
que brinca de pecado em torno da cratera.
Se és Zeus e te sou Hera - em mim não és fracasso.
Ardente pedes bis, anseias qualquer feito...
Teu corpo nu revela em ira garraiada
os prêmios celestiais de um deus por mim eleito.
Desejo-te beijar, o corpo em mim insiste...
Meu dorso nu reclama a língua seviciada
e anulam qualquer não os seios quase em riste.




Adeus
Silvia Maria Leite Mota
[ Silvia Mota ]
Rio de Janeiro - RJ
Como se quebrantasse o sortilégio do adeus
seguro-me na ponta d'uma fervente estrela
e voo ao soluço eterno de saudade alucinada.
Faço-me viva até que me transforme em pó
e ao depois... espalho-me às águas mórbidas
de um negro mar frio suculento de sangue.
Desapareço na linha do horizonte...
Nada e ninguém me encontrará jamais!