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sábado, 5 de março de 2011

Espaço Crônica - [ O Inquilino - Tudo por uma chave - A casa da vizinha ao lado... ]



Espaço Crônicas




" O Inquilino "
[História Real]
Celso Gabriel de Toledo e Silva - CeGaToSi®
Poeta de Luz® - Arquiteto de Almas®
Concebida em: 30/novembro/2005


Quanto é estranho, porque não dizer misterioso este tempo que desfrutamos estando aqui presente neste espaço de água, chão, sol, lua, frio, calor, enfim... Esta residência passageira, este globo chamado de planeta Terra.

Quantas e quantas vezes nos foge a compreensão de tudo o que estamos a viver, do que já se viveu, até aquilo que ainda poderemos vivenciar e não entendemos o seu porquê, mas estamos a fazer parte de tudo isto, indireta ou diretamente.

Sendo assim vou contar-lhes uma experiência na qual participei de começo como um espectador e com o passar de um curto espaço de tempo como parte ativa da história.

Tenho a oportunidade de residir numa área de relativa tranqüilidade em minha cidade e ter a chance de possuir uma residência com um quintal onde existe um espaço com verde [trepadeiras e arbustos de médio porte] e em decorrência disto a vida floresce através das flores, dos pássaros, a natureza seguindo seu ciclo sem agressões.

Numas dessas tardes, que você deseja não querer fazer nada, apenas sentar-se na sombra gostosa de uma árvore, absorver o frescor proporcionado por esta sombra e nada mais, foi que conheci o [caramelo] um gato inteiramente branco, com olhos cor de caramelo, como gosto muito de animais procurei fazer um contato, criar alguma amizade, chegamos a isto por alguns dias, conversas sem resposta de uma das partes, aos poucos a permissão de um afago, o aceitar de um pouco de ração, tudo timidamente, mas aceito.

Não sei se tudo foi providencial ou simplesmente um mero acaso, quando menos esperava este gato trouxe um dia de manhã pouco antes de colocar para ele a sua cota de ração um outro gato [o inquilino], preto como a escuridão e de olhos amarelados, arredio, desconfiado, longe de qualquer chance de amizade.

 De pronto só mesmo o [caramelo] vinha para comer a sua ração, o outro ficava a observar e a chamar, chamar, como quem quer ser exclusivo, toda a atenção voltada só para ele, e isto lentamente ele ia perdendo junto ao gato branco, havíamos criado um pequeno vínculo e diariamente [caramelo] cá estava, e isto, acredito forçava ao [inquilino] a segui-lo, não que precisasse, mas estava junto a ele todas as manhãs.

E assim fomos levando cada dia na sua própria velocidade e com o passar do tempo o [inquilino] começou a aparecer sozinho para o almoço e depois para o jantar, esporadicamente o [caramelo] aparecia, como se estivesse verificando se tudo transcorria tranqüilamente, como se a ele fosse de responsabilidade trazer o outro gato para encontrar um lar, quem sabe um pouco de afeto, carinho.

E sendo assim [caramelo] literalmente desapareceu, e o [inquilino] foi se instalando, sempre desconfiado, entre o constante conflito da permissão do contato humano e a necessidade do alimento, mas estava ali comigo.

Nunca me deixou afagá-lo, raramente conseguia tocá-lo, das três ou quatro vezes que quase consegui fiquei com algum arranhão nos dedos, a conquista da amizade nem sempre é fácil.

Mas era infalível, ao abrir a porta da cozinha na parte da manhã, lá estava ele esparramado no quintal a minha espera ou senão parecia que podia ouvir o ranger da porta a quilômetros de distância, alguns minutos depois cá estava ele, e vinha miando sem parar, me dizendo, hei, estou aqui, vem mexer comigo, quero comer, tomar água.

E assim fomos criando o nosso ritual diário, o contato pela busca da amizade entre homem e animal, pouco a pouco ele foi se permitindo ao aproximar, vinha ao telhado da lavanderia comer a sua ração, tomar os seus goles de água na vasilha que havia arrumado para ele, isto já almoço e jantar.

Toda vez que colocava a sua alimentação ou dava-lhe algo para comer e ficava de costa para mim para comer, nunca de frente, como quem pedisse licença para se alimentar e eu sai deixando-o onde queria estar, e foi numa destas vezes que voltei para a cozinha cuidar do meu almoço, e quando me volto em direção ao fogão não é que o [inquilino] havia entrado e se posicionara sentado sobre o tapete de entrada da cozinha e ali ficou por alguns minutos observando-me e aquele lugar cheio de objetos variados.

Este foi mais um de seus passos para o fortalecimento de nossa amizade, como não dizer também de toda a curiosidade que habitava nele para descobrir onde estaria [amarrando seu burro], e assim foi se chegando e chegando, após alguns dias já estava íntimo da casa, conhecia toda a cozinha, o banheiro, o corredor para os quartos e até o local que costumo ficar na parte da manhã, um pequeno escritório onde registro esta narrativa.

E o vínculo crescia, já nem precisava sair para colocar a sua ração, achando que estava na hora de alimentá-lo, ele próprio chegava perto da porta da cozinha ou no vitrô do banheiro e ficava a miar me chamando, olha, estou aqui, vim me alimentar.

Pois é, tudo na vida tem seu tempo, sua hora, seu valor e seu preço, como a sua paga, muitos devem achar que nada se aprende com um simples animal, mas quantos estão enganados, ensinam, sobretudo a humildade, solidariedade, generosidade, companheirismo, afetividade, respeito.

E neste contato com o [inquilino] pude reforçar estes laços de sentimento, reavaliar minha própria vida, conceitos, atitudes, o viver. Sou muito grato por esta oportunidade que me foi ofertada.

O mais triste de tudo isto é que como somos passageiros temos um tempo de existência neste planeta, e nem sempre entendemos por que se parte, como isto ocorre e da forma que acontece, mas a vida precisa prosseguir, é o ciclo, e todos nós com a vida.

Lamento que este final não seja o que realmente gostaria que fosse, meu desejo seria poder contar que o medo e a insegurança foram vencidos pelo [inquilino] e hoje se permitisse aos meus carinhos e participasse do meu dia a dia, da minha vida.

Após alguns dias sem aparecer para se alimentar e já me deixando preocupado voltou a seu refugio seguro com as forças que ainda possuía e pude vê-lo estirado no quintal, fraco, magro e procurando forças para resistir, vencer a morte com a vida.

Envenenaram meu [inquilino], como pode haver pessoa tão má! Que Deus a perdoe, não sabe o mal que fez.

Foi capaz apenas de encontrar o caminho de minha casa, o seu porto seguro e chegar até aqui, lentamente agonizar por dois dias que queria a ele algo poder fazer, ajudar, mas não me permitia chegar, tocá-lo, como se soubesse que não haveria solução. E assim foi, sofri com ele toda esta agonia, até que não havia em si mais forças para me evitar e pude me aproximar, afagar seu pêlo como nunca havia feito, olhar em seus olhos e saber que ele aceitava todo o meu carinho, como se me dissesse, não tema, tudo ficará bem.

Dei-lhe algumas gotas d’água através de um conta gotas, olhamos um ao outro, novamente acariciei-o, deixei-o a descansar, respirava lento e com dificuldade, o que faltava a ele foi a minha solidariedade e afeto, minutos depois ao voltar já havia descansado meu querido [inquilino]. Infelizmente numa linda manhã de novembro, veio a falecer.




" Tudo por uma chave... "
[História Real]
Celso Gabriel de Toledo e Silva - CeGaToSi®
Poeta de Luz® - Arquiteto de Almas®
Concebida em: 27/maio/2005


Quem me dera! Eu, sem imaginar vim a participar de uma situação hilária e muito divertida e que acredito não posso deixar de registrar, pois foi muito interessante tudo o que aconteceu.

Uma situação que envolveu um bom amigo, mas poderia acontecer com você, com qualquer pessoa, porém, o mais engraçado de tudo isto são as reações que acontecem com as pessoas, preocupação, aborrecimento, raiva, por vezes um choro, também boas risadas.

Por isso, aproveite a leitura, certamente depois deste relato você irá se patrulhar melhor com as suas chaves, mas lembre-se, dê boas risadas com a situação e nunca se deixe estressar.

É... Não é fácil mesmo o que chegamos a fazer por uma boa amizade, ainda mais quando tudo acontece justamente naquele dia de feriado, aquele dia que você não está a fim de fazer nada e era assim que eu estava, e não é que toca o fone que mais vive mudo do que em serviço, fui atender.


Era meu amigo querendo saber o que iria fazer no período da tarde, pois desejava vir até minha casa para conversarmos um pouco sobre a vida e obter de mim alguns conselhos, e olha que não cobro um centavo dele, só brincadeirinha, pois quem sabe se este meu amigo vier a ler isto não aparece mais em casa e nem me pede mais conselhos, risos.

Disse-lhe que viesse que seria um prazer, passou-me a hora que chegaria e desligou o fone, eu voltei ao que precisava fazer e por lá fiquei, envolvi-me tanto com tudo que nem me preocupei com o almoço, e assim as horas foram passando.

Vendo que à hora estava próxima para a chegada deste meu amigo aproveitei e fui tomar um banho, aproveitar que o sol estava ainda quente, senão depois já viu, banho só se for o tcheco, [um pouco de água aqui, outro pouco lá], nossa o que será que vão pensar de mim deste jeito.


Não há com o que se preocupar, o banho não foi assim como estão pensando, até que aproveitei bem, meu amigo ainda demorou a chegar, pude até terminar de corrigir um texto que havia escrito na madrugada anterior e escrever outro que estava a borbulhar na mente.

Estava eu no escritório quando meu amigo chega com aquela voz de radialista: [Ceeellllsssooooooo] e lá vai minha cachorra latir dizendo que alguém chegou e volta feliz para que eu vá até o portão, pois ela o conhece e gosta da sua pessoa. Aqui é preciso o aval dela também para entrar, senão não sobra calcanhar ou tornozelo intacto.

O recebi com um caloroso sorriso e um gostoso abraço. Adentrou e fomos logo indo para a cozinha, lhe oferecer um copo d’água, pois ele estava com sede da caminhada até minha casa. Puxamos um par de cadeiras e ali mesmo ficamos a conversar, fui mais ouvido que fala, não que me mantivesse o tempo todo sem dizer algo, mas sempre ouvindo mais do que dizendo, deixando que ele colocasse em dia o que com ele havia acontecido e dizendo também algumas das situações comigo.


Aproveitamos para fazer alguns comentários, tipo daqueles que a orelha de fulano fica a arder, mas nada que fosse ofensivo, apenas conversinha e comentários tipo mesa de barzinho. Falamos entre tantos assuntos da festa de aniversário que eu tinha ido à noite anterior, aniversário dele inclusive, digamos assim, o básico.

E com isto o tempo foi passando, as horas já apontando para o final de tarde, para aquele comichão gostoso no estomago avisando que está na hora de pensar em que fazer para o jantar. Indaguei se ele iria ficar, pois por morar sozinho acaba-se não fazendo nada ou comprando algo pronto e tendo a sua companhia eu poderia preparar algo para ambos, aceitou e nisto ficamos nós a decidir o que faríamos.

Sugeri que esperássemos um pouco mais e depois iríamos até uma pizzaria próxima de casa que conheço a sua qualidade e lá escolheríamos o que mais nos agradaria, é um glutão, vive com fome e acreditem é um magro, pior de tudo isto é que não conta o seu segredo, nem para mim que sou um grande amigo dele, [mui amigo - gardelon]...


Depois dum certo impasse, este com a pizza, para piorar eu me pus sugerir, que tal fazermos frango frito na panela com cebolas, limão. Melhor parar por aqui senão ainda terei que passar a receita e assim não vale, também tenho os meus segredinhos e me cabe deixar você leitor com curiosidade e com água na boca, [ô maldade]. Foi onde meu amigo gostou da idéia e fomos ao supermercado, para variar no Pão de Açúcar, aqui é vinte e quatro horas e este tipo de lugar vicia, vocês não fazem idéia e olha que não é um lugar barato, é preciso pesquisar muito antes de recorrer a este lugar, e lá fomos nós as compras, melhor ao frango.

Já lá dentro, no supermercado eu pude apenas comprar as cebolas, pois ele me diz: em casa sobrou tanta coisa da festa, refrigerante, patês, pães e também o bolo de aniversário, foi o que bastava, justamente comigo que sou uma formiga, vem falar de bolo de aniversário dando sopa, de imediato resolvemos que o jantar seria o [restô dontê da festa], paguei a cebola e rapidamente voltamos para minha casa para que eu me trocasse, ele pudesse pegar um presente que havia recebido, o qual estava na mesa da cozinha.


Em casa arrumei-me vestindo calça comprida e uma camisa de manga longa, pois a noite prometia esfriar, peguei minha carteira, um saquinho pequeno de lixo [não seja curioso quanto ao saquinho, depois lhe conto], meu amigo o seu presente, fechei a porta da frente, acomodei minha companheira no abrigo em sua cesta de dormir e fomos caminhando até a sua casa, com isto aproveitando o tempo e pondo a conversa que faltava em dia.

Ele é resistente a andar a pé, mas desta vez ele sugeriu que fossemos caminhando e como partiu dele o pedido, imagina que eu iria contrariar o [bicho], ainda mais que eu gosto de caminhar, disse sim de primeira e fomos embora, é agora que tudo vai realmente começar a acontecer com a bendita chave da casa dele, risos.

Depois de uma caminhada de quase cinqüenta minutos e já próximos da sua casa ele resolveu verificar nos bolsos da sua calça onde estavam as chaves, pois estávamos já bem perto, e cadê as chaves???

E ele ficou a [fuçar] nos bolsos, pra cá e pra lá, enfia a mão, tira a mão e nada das chaves, começou a ficar nervoso, gesticular, falar que ele não acreditava que tinha feito aquilo e a repetir constantemente a mesma frase: Eu não acredito que eu fiz isto! Eu não acredito que eu fiz isto!

Eu ao invés de ficar quieto e lamentar junto com ele pus-me a rir da situação, pois dizia que nunca tinha acontecido aquilo e feliz ou infelizmente agora estava acontecendo, os dois a pé, próximos a sua casa e sem as chaves para entrar, sei que é algo grave, poderia ter perdido as chaves na rua, quem sabe dentro de um ônibus, talvez até no carro de alguém que tivesse lhe ofertado uma carona, ou ainda em minha casa, pior na casa da ex-esposa, imaginou...

E no caso dele que é separado, as chaves haviam ficado na casa da ex-esposa, pois antes de vir até minha casa havia ido até lá ver as filhas, mas isto tudo estava repleto de dúvida ainda quanto onde ele teria deixado as chaves, pois não admitia que tivesse justamente feito isto. Como havia tanta dúvida, por vezes sugeri que voltássemos até minha casa, isto implicaria em outra caminhada de pouco mais de cinqüenta minutos que ele rapidamente descartou.

E lá estávamos eu e ele em frente ao portão, sem as chaves para entrar na casa, já perto das dezenove horas e sem uma solução, quando ele resolveu ir até a casa de seus pais que residem a uma quadra e meia da casa dele e ligar para a casa da ex-esposa para saber se as chaves estavam lá realmente, pois não tinha mais a certeza e continuava a dizer: eu não acredito que isto está acontecendo comigo e eu me divertindo e rindo da situação e procurando é claro ajudar.

Para infelicidade dele e dúvida maior ainda ela não estava em casa, estávamos a pé, as horas passando e ele não se resolvia entre voltar para minha casa e vermos se a chave estava lá e mesmo que não estivesse esperar até que pudesse ligar na outra casa e saber que realmente as chaves estavam lá e ele iria buscá-las.

Ficamos nesta indecisão por um pequeno tempo, tentamos com outras chaves, inclusive as minhas de casa, mas tudo foi em vão, até que a parte mais divertida da situação hilária aconteceu. Ele já sem paciência resolveu pegar um martelo e uma chave de fenda e tentar entrar na casa, pois havia dentro uma cópia das chaves, eu pensei que iria arrombar a porta da frente, mas não foi isto que fez, como mora numa casa atrás de outra casa precisou pedir a vizinha da frente para poder entrar em sua casa e ir até o quintal que é separado por um portão e com isto eu acabei indo junto de contrabando.

Atravessamos a casa da vizinha na hora do jantar, e nós que estávamos já com a fome nem sei aonde e aquele aroma de bife frito com cebola na cozinha nos torturando. Chegamos ao quintal da casa dele e não deu outra, com o martelo e a chave de fenda e com o empréstimo de uma pequena escada da vizinha ele não teve duvida e retirou o vidro do vitrô do banheiro e eu ainda me divertindo com a situação só lhe perguntava, você vai entrar pelo banheiro, mas é tão pequeno, você não vai passar, vou sim dizia ele, eu sou magro, é o espaço suficiente, se minha cabeça passar o resto passa.

E ele retirou o vidro sem quebrá-lo, limpou bem em volta e colocou a cabeça para ver se ela passava, e não é que passou, mas antes dele fazer esta peripécia de virar ladrão da sua própria casa eu lhe disse: mas você vai entrar de cabeça, como fará para descer no chão do banheiro, vai escorregar de vez, irá se machucar ainda, me respondeu; eu entro e vou escorregando, ri de momento, apenas ri.

Nisto ele percebeu que não daria certo e tirou relógio, carteira, celular, até o tênis e foi entrando com os pés, as pernas, ficando com meio corpo dentro do banheiro e meio corpo para fora, e eu falava para ele, agora que é, você querendo entrar pelo vitrô do banheiro, vai que fica entalado e eu preciso ainda chamar o Corpo de Bombeiros para retirá-lo daqui e continuava a rir.

Ele até chegou a ficar meio que preso pela calça na alça do vitrô, mas soltou-se e acabou por entrar no banheiro, indo até a porta lateral e abrindo por dentro e depois me oferecendo o convite para entrar na sua casa.

Passada toda a experiência, a aventura de ladrão de si próprio e a aula de contorcionismo, ele foi ao encontro da cópia das chaves, após isso foi devolver o martelo e a chave de fenda, agradecer a vizinha e ofertar as atenções a mim por estar na sua casa como se nada houvesse acontecido.

Ah! Não pense que esquecemos dos patês, dos pães, refrigerante e do bolo, a fome não deixou que isto fosse esquecido, arrumamos a mesa, ligamos a TV e ali saboreamos o [restô dontê] da festa do seu aniversário que estava uma delícia, o bolo geladinho, saboroso, dava água na boca só de olhá-lo, em meio a risos, a loucura das atitudes, sobretudo o prazer da boa companhia e o forte sentimento de amizade, para depois tudo seguir normalmente, com isto eu poder voltar para minha casa algumas horas depois e estar aqui hoje sentado a contar para vocês esta divertida situação que indiretamente eu vivi com este meu amigo que só repetia para mim: Eu não acredito que isto está acontecendo comigo, puta merda, que ódio, e eu ria e ria...
           
p.s.      [eu ia me esquecendo de falar do saquinho de lixo, é que como tenho o hábito de sair todas as noites caminhar com a minha cachorra e por me cansar de ver tantas latinhas de refrigerante e cerveja jogadas nas sarjetas, nos canteiros das avenidas eu comecei a recolhe-las, com isto estou fazendo a minha parte, retirando o lixo da cidade, da natureza e, sobretudo ganhando um dinheiro extra além do exercício físico diário da caminhada. Habitue-se a fazer isto também, comece você com o exemplo, as pessoas até poderão estranhar, mas acredite, lentamente estarão fazendo igual a você e assim iremos com certeza ter uma cidade mais limpa e se possível pessoas com uma consciência melhor e uma natureza e um mundo mais limpo.]






A casa da vizinha ao lado...
[Mãe e filha]
Celso Gabriel de Toledo e Silva - CeGaToSi®
Poeta de Luz® - Arquiteto de Almas®
Concebida em: 19/novembro/2005


Alguns dizem que [ela] a vizinha é a [bisbilhoteira] discreta.


Na verdade para falar sobre esta pessoa preciso fazer algumas considerações, constituiu família ao contrair núpcias com aquele que seria seu esposo, hoje já falecido, pouco tempo faz que partiu deste mundo terreno, próximo do primeiro ano sem ele para ser companhia desta senhora.

Gerou um casal de filhos, o rapaz hoje homem feito, reside em uma cidade da região, pai de um casal de filhos também, coube a ele dar a continuidade da família e ao sobrenome que herdou dos pais, a filha, já mulher feita, escolheu ser solteira, assim imagino, quem sabe imposição da mãe, mas quem terá a resposta verdadeira só mesmo esta filha.

Quando possível o filho aparece para visitar a mãe e a irmã, não é um contato freqüente, pelo pouco que pude observar se tem à impressão que a mãe e vizinha, não são apegadas aos netos, penso por já ter uma certa idade, e convenhamos, crianças são de tirar o fôlego mesmo até para os pais, imagina dos avós.

Residem em uma casa do tipo sobrado, mãe e filha um imóvel imenso para duas mulheres, compreendo que seja até difícil se desvencilhar da propriedade, uma vida constituída com outrem e agora apenas as lembranças, quantas histórias de alegria, tristeza, de vida conjugal e relacionamento entre os filhos que agora só trazem solidão e dores.

São hoje na verdade mais escravas do imóvel do que moradoras [proprietárias], a vida diária é limpar e limpar, como se fossem faxineiras contratadas [diaristas], com o intuito de manter o ambiente limpo.

Não vá pensando que é uma limpeza, daquelas [onde o padre passa], para se ter idéia para o lado da rua existem dois quartos e varanda encima do abrigo, cada quarto com portas-balcão de madeira ripada, que são limpas [gomo a gomo] passando-se um pano entre elas de [cabo a rabo].

Isto sem se falar nos três portões de ferro do abrigo que aloja apenas um gol [bolinha], que só sai ou se funciona quando o filho vem de visita.


Estes portões passam pela mesma triagem das portas-balcão, tudo isto entre chaves e cadeados com grossas correntes que são abertos quando se precisa ir ao supermercado, pagar alguma conta ou receber alguém que raramente visita as duas, do contrário lhe atendem trancadas.

Como se não bastasse diariamente fazem uso da máquina de lavar roupas, raro o dia que não está ligada, como se a casa fosse habitava por um [batalhão] de pessoas, infelizmente apenas mais uma das manias adquiridas e mal administradas.

Muito também me admira a filha ter optado por uma vida sem sobrevivência própria, formada, [engenheira agrônoma], preferiu quem sabe passar a vida literalmente presa aos afazeres domésticos e ao controle da mãe.

O que oferto quando as vejo é um [bom dia], às vezes um [boa tarde], raramente um [boa noite], isto ainda quando respondem. Vejo que não acontece apenas comigo, com outros vizinhos também a atitude é bem parecida, só mesmo com duas senhoras próximas da idade dela que mantém um contato mais próximo, mesmo assim com hora e data marcada.

Por vezes estas mesmas senhoras já me indagaram sobre o que eu pensava a respeito das minhas vizinhas, pois tinham a nítida impressão que ambas estavam sempre a vigia-las pelas frestas do vitrô, como se precisassem estar a par do que acontece com as outras pessoas e não com elas mesmas.

O quintal da minha casa dá fundos com o quintal da casa delas de forma paralela e até lá raramente eu as ouço conversando, quando o fazem falam [cochichando], como se houvesse o medo de que alguém ouça o que dizem e possam usar contra elas, pura loucura se for isto, mas cada louco com o seu modo de vida.

Não há cortinas pela casa, nem tapetes, pode ser por praticidade, por alergia, um ambiente simples apesar da imponência do imóvel. Uma propriedade que lentamente está a precisar de um cuidado externo, serviço este que creio cabia ao esposo quando vivo, pois a pintura está a descascar, alguns trechos já há a falta do reboque sobre os tijolos e assim vai.

Não cheguei a conhecer o esposo, pois quando adquiri o imóvel no qual resido ao lado ele já havia falecido, e nem isto elas se permitiram, o conhecer se limitou e continua limitado aos raros cumprimentos.


Quantas outras senhoras e suas filhas, seus filhos, outras tantas sozinhas em suas casas, em seus mundos de saudades, lembranças, alegrias, dores, vivem desta mesma forma, isoladas da sociedade, da própria vida que ainda se manifesta em si.

Lamentável que isto ocorra ainda em nossos dias, mesmo estando no Século XXI, ainda temos pessoas que vivem no século passado, regido por regras e normas rígidas que os seus pais anteriores receberam e apenas repassaram aos filhos sem sequer provocar alguma mudança de melhor para a vida de todos como um conjunto – família.

Que isto sirva de aviso, um alerta aos pais de hoje, aos avós, as pessoas mais jovens, também as autoridades que pregam tanto a solidariedade, as religiões que buscam embutir conceitos nas pessoas e na verdade só as fazem criar barreiras de existência, medos, receios, pavores que resultam lentamente em um isolamento que não tem mais volta, preso entre correntes imaginárias que pregam uma falsa proteção enquanto o mundo sobrevive.





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